terça-feira, 19 de julho de 2011

Nota de leitura

     Ainda esses dias, terminei de ler um excelente livro do mineiro Fernando Sabino, que talvez seja um clássico e só eu não soubesse. Mas mesmo assim vale a pena comentá-lo. “O encontro marcado”, de 1956.
      Li em alguns cantos que o livro é um livro datado – e definia-se datado como algo que morria com o seu tempo, algo assim, ou que só então fazia sentido. O que nem seria um absurdo, já que o livro acompanha os conturbados anos que vão de 1930 até 1950, ingenuamente chamados de “era Vargas”; mas menos no plano político que na vivência de Belo Horizonte, uma das mais modernas capitais de então. Mas só seria se fosse: os conflitos de geração, por assim dizer, ligados a experiência da época, não poderiam deixar de lado toda uma momento da história do Brasil, e de seu centro político e intelectual. O período é fundamental para os dias de hoje: a fundação de um estado-nação moderno, Brasília, 1964, etc. etc.
     Desde o começo, da infância da personagem, vi alguma coisa de “Retrato do artista quando jovem” do Joyce. Tem qualquer coisa de romance de formação de um artista, ou funcionário público, no Sul dos anos 50. Desde as fabulações de jovem, flanando pelas ruas de uma capital de província, até o Rio de Janeiro, onde o livro parece acompanhar poesias de Carlos Drummond. A época que viu o suicídio de Vargas e a construção de Brasília foi marcada por certa euforia, em parte pela fartura do pós-guerra, mas também devido ao progressismo característico do estado de Vargas. Há um certo tempo, um velhinho que conheci num bar, e que quando a coisa estava pegando fogo era bem entrosado na política, até disse que a época que nós vivemos, neste sentido de euforia e crença na democracia, é bem parecida com os anos 50.
     Neste sentido, o livro é sim um tanto burguês, como entenderem o termo. Mas é o burguês em crise, a crise que estoura nos anos 60. E também a visão de um artista, duma época que viu grandes façanhas em matéria de problematização de seu tempo, e mesmo na imortal arte de pensar na vida, coisa que os mineiros parecem fazer tão bem. Ótima leitura, com muito ainda a nos dizer.

3 comentários:

  1. Lembre-se! agora você me empresta esse livro!

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  2. Cara, eu li esse livro há mais de quinze anos, e desde então achei que estava fora do que se costuma dizer que Fernando Sabino. É um romance que pega a gente de surpresa. Quero muito relê-lo. E sei que o essencial está aqui. Outro livro que é tão surpreendente quanto é "O ventre", do Cony, talvez (é só um chute) a melhor coisa que ele já escreveu. Abraço, Pedrão, seu blog é muito bom!

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  3. Obrigado pela visita, Adriano. Não conheço nada do Cony, vou procurar.
    E esse livro do Sabino também me pegou de surpresa, nem imaginava começar a ler um romance, achei ele num sebo e comecei a ler no mesmo dia. Foi uma surpresa muito feliz, o Sabino é um grande autor e um grande mineiro

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